Livro: Técnicas de Comunicação Escrita
Todo mundo conhece pessoas ou situações em que uma comunicação equivocada gerou grandes transtornos. Muita gente acha que sabe se comunicar, mas vive gerando confusão e desencontros, quando o objetivo da boa comunicação é justamente o inverso.
Este livro de Izidoro Blikstein trabalha a comunicação escrita. No entanto, todos os conceitos são totalmente aproveitáveis em todas as situações em que a comunicação eficaz é necessária.
Para começar, este livro é formato pocket, 12x18cm. Depois, são apenas 98 páginas com muitas ilustrações. A leitura é muito leve, divertida. Isso, nos tempos da faculdade, era muito importante (sim!!! Este livro foi recomendado pelo professor de redação publicitária).
Segredos da comunicação escrita
Como já disse, eu mudaria o conceito deste livro para Comunicação eficaz, muito além da questão escrita. Mas, foi para isso que autor desenvolveu o texto.
Ele começa falando dos três tropeços e três segredos da boa comunicação:
- Primeiro tropeço: Bilhete errado = resposta errada. No livro, há uma divertida historinha de um chefe que deixa o bilhete para a secretaria, mas tudo dá errado. Isto porque o bilhete contém diversas falhas, chamadas ruídos de comunicação, que interferem negativamente no resultado.
- Primeiro segredo: mensagem correta = resposta correta. Aqui, o autor fala sobre a necessidade de ser preciso na linguagem, e sua correta utilização.
- Segundo tropeço: uma ideia clara e brilhante, mas… só na cabeça do autor. Muitas vezes, quando escrevemos, temos uma ideia clara de nossas necessidades e o que precisamos transmitir. Mas, na hora de colocar no papel, ou expressar-se… hummm. Aí que ocorrem os problemas.
- Segundo segredo: escrever bem = comunicar bem = tornar comum. O autor explica o que é comunicação que é fazer com que uma ideia que está na cabeça o interlocutor se torne comum a outra pessoa.
- Terceiro tropeço: Com vinagre não se apanham moscas! O conceito aqui é explicar que, com aspereza, não se conquista o interesse das pessoas. Tudo para explicar o
- Terceiro segredo: escrever bem = persuadir. Aqui, a orientação é que o texto tenha atrativos para motivar ou persuadir as pessoas a colaborarem nas solicitações que temos que realizar diariamente.
Pronto. Está formado o tripé da comunicação eficaz que é baseado em:
- Tornar o pensamento comum
- Produzir uma resposta
- Persuadir
Estrutura e funcionamento da comunicação
Eu me lembro que, ainda na faculdade, tive uma aula de Teorias da Comunicação. Nele, fui apresentado a um modelo básico de comunicação – o Shannon & Weaver. Estes, dois matemáticos, que decidiram estudar o assunto e criar este modelo. Juntando as peças com o livro de Izidoro Blikstein, acabei criando uma aula que os alunos finalmente entendem o que é o processo da comunicação.
Primeiro, Blikstein apresenta a estrutura com três peças: remetente, destinatário e mensagem. O primeiro, é o que remete (envia) a mensagem a um agente-destino. Notou que, neste texto, adaptei os conceitos, explicando em linguagem mais fácil o que cada uma das peças?
Como pegar a ideia
Em seguida, explica o que é a mensagem. Entre parêntesis, vou colocar a terminologia utilizada em Teorias da Comunicação. Segundo o autor, a mensagem é composta da ideia (significado) + estímulo físico (significante). Este estímulo físico, no caso da comunicação escrita, são as palavras e imagens ilustrativas que podem compor a mensagem.
Na comunicação geral, qualquer estímulo aos nossos sentidos é capaz de comunicar: olfato (aromas e perfume), tato (sensações tácteis de materiais, como aspereza, temperatura, dureza etc), visão (cores, formas, imagens estáticas ou em movimentos, textos etc.), audição (sons, efeitos sonoros, trilhas, música etc. e até mesmo paladar (sabores).
Tudo, em comunicação, é realizado por meio de um signo que, por sua vez, é composto de significante (estímulo físico) e significado (ideia).
Código: a quarta peça meio escondida
O código pode ser descrito, segundo o autor, como “uma instrução que cria, e depois controla, a relação entre significante e significado”. Eu costumo explicar que é algo que combinamos, entre nós, como pares de uma sociedade, o significado de cada signo. Essa combinação é passada de geração em geração, entre todos os integrantes de uma comunidade.
O código é a chave que faz com que qualquer estímulo físico se torne um signo.
Vamos a um exemplo: quando estamos na rua e nos deparamos com uma luz vermelha em um semáforo, temos o hábito de parar. Mas, se vem alguém que nunca viu a civilização, digamos um índio que até ontem vivia isolado em uma tribo na selva amazônica. Como nunca tinha vindo a uma cidade, você acredita que ele pararia diante de um sinal fechado? Claro que não. Esta ideia não foi associada ao estímulo (luz vermelha do semáforo) e, portanto, como ele não foi ensinado, não se estabeleceu um código relacionado a este signo, simplesmente ignoraria o sinal de parar.
A codificação, portanto, é o processo em que um estímulo físico foi associado a uma ideia, criando um signo.
Quando estamos nos comunicando, estamos transformando ideias em signos (verbais, textuais, sonoros, enfim) codificando-as em estímulos. A nossa meta é que, do outro lado da comunicação (destinatário), haja uma correta decodificação, ou seja a transformação do signo em uma ideia que foi compartilhada (tornada comum).
Domínio do código
Quanto mais ampliarmos nosso conhecimento nos códigos – linguagens verbais e não-verbais – mais estaremos aptos a escolher corretamente os signos para uma comunicação eficaz. Por isso é importante definir corretamente as palavras, gestos e posturas da comunicação, para transmitir nossas ideias de forma que, do outro lado, aumentem as chances de sermos bem compreendidos.
Código aberto e fechado
Alguns signos têm o código fechado, ou seja, apenas uma interpretação possível. Se nos depararmos com uma placa dizendo “Direção Proibida” e uma seta preta cortada por uma faixa vermelha, só há uma interpretação única e estável: “não seguir por esta direção”.
No entanto, alguns códigos podem gerar dubiedades (dúvidas), como, por exemplo, ao informar as horas. No Brasil, é muito comum indicarmos as horas de 1 a 12, nos dois períodos do dia. Assim, oito horas podem ser oito horas da manhã ou da noite.
Mas existem outros exemplos de código aberto: quando dizemos para um amigo reservar um lugar no restaurante que sempre frequentamos juntos, podemos nos referir a “qualquer lugar”, ou a um “local específico”, como uma área vip, ou uma região do estabelecimento que é favorito para nós. Se a ordem não for específica, podemos gerar confusão no entendimento da ideia.
O código aberto, portanto, é aquele em que o estímulo (significante) pode ter dois ou mais significados (ideia).
Por exemplo, no mundo corporativo, é muito comum usar frases como “espero seu retorno o mais breve possível”, quando, muitas vezes, o melhor seja utilizar “espero sua resposta até 10h00 da manhã do próximo dia 12”. Mais completo, um pouco exagerado, mas sem dúvida, mensagem que é certeiro, que NÃO gera dúvidas.
Todos nós carregamos uma bagagem cultural: o repertório
Tão importante quanto criar uma bagagem cultural, lendo e aprendendo novas palavras e obtendo novos conhecimentos linguísticos, é também importante analisar o outro lado: quem vai receber a mensagem, tem a mesma bagagem cultural, o mesmo repertório, o mesmo conhecimento que o remetente?
A experiência e conhecimentos do remetente não são exatamente iguais aos dos destinatários da mensagem, pois isso é algo muito particular e, provavelmente, o repertório, a bagagem cultural – conhecimentos, hábitos e costumes – é diferente e outras pessoas, mesmo que sejam muito próximas entre si.
Por isso, uma pergunta chave é: “qual é o repertório da pessoa a quem estou enviando esta mensagem?”
Sem veículo… a mensagem não chegará ao destinatário
Veículo é um elemento a natureza qualquer e que serve para conduzir a mensagem do remetente ao destinatário. A escolha correta do veículo depende de alguns fatores, que Blikstein lista:
- Conteúdo e condições de emissão da mensagem;
- Objetivos do remetente;
- Situação e contexto da comunicação entre remetente e destinatário;
- Condições de recepção da mensagem.
Condições necessárias para uma comunicação eficaz
O autor finaliza o capítulo relembrando condições para uma boa comunicação:
- Conhecimento do código;
- Uso de códigos fechados;
- Conhecimento do repertório do destinatário;
- Conhecimento do repertório do contexto cultural ou profissional em que atuamos;
- uso adequado do veículo.
Ganchos para agarrar o leitor
Blikstein dedica um capítulo inteiro ao que chamamos de ganchos, que é o segreda para atrair, motivar ou persuadir o leitor. Trata-se de técnicas que auxiliam a tornar a comunicação mais eficaz.
Esfriar a mensagem
Quando sobrecarregamos a mensagem com muitas e complicadas informações, há um “esquentamento” que provoca cansaço no leitor. Mensagens frias são aquelas que não exibem grande esforço e atraem o leitor.
Imagem: valem mais que mil palavras
Outro gancho importante é o uso correto das imagens. Primeiro, porque, como diz o ditado, uma imagem pode explicar muito mais que um longo texto.
Na apresentação de resultados, por exemplo, o uso de Gráficos pode ser mais interessantes por demonstrarem visualmente o que palavras levariam muito tempo para serem explicadas.
Outro bom exemplo, são as placas de sinalização de trânsito. Muito mais rápido e fácil de entender do que textos que precisam ser lidos – e que exigem um mínimo de instrução (leitura) para serem captados e interpretados.
Tabelas, embora não sejam imagens, também são formas mais visuais de organizar e apresentar diversos tipos de informações. Por isso, sempre considerar esta forma de apresentação.
Finalmente, é importante cuidar da estética das menagem, para que elas sejam atraentes, chamem a atenção e convidem o destinatário a consumi-la.
Comova e assuste o destinatário!
Izidoro Blikstein explica técnicas que podem ser utilizadas para atrair e comover o destinatário da mensagem. Pode ser com o uso de humor, frases de efeito ou mesmo poesia.
O objetivo é gerar um envolvimento emocional que faz com que o destinatário esteja ainda mais atento à mensagem.
Receita para a eficácia da comunicação escrita.
O autor finaliza o livro com um grande resumo visual de tudo o que foi apresentado no livro, encerrando com chave de ouro.
Nesta resenha, você pode conhecer os princípios da comunicação eficaz, em um livro direcionado à escrita. Foi possível compreender todos os elementos que fazem com que a mensagem transmitida seja corretamente interpretada pelo destinatário a mensagem, gerando resposta adequada e positiva ao que se espera.
Saber utilizar corretamente a linguagem verbal e não verbal, escolher adequadamente o veículo, utilizar os códigos adequadamente, sempre atento ao repertório ou bagagem cultural de seu interlocutor. Nossa! Tudo isso em um livrinho pequeno, de linguagem simples e bem fácil de entender.
#leitura recomendada