Livro: FREE : o futuro dos preços
Hoje em dia, a internet está inundada de ofertas gratuitas, em especial, cursos e treinamentos. Neste livro, escrito há mais de dez anos, o visionário Chris Anderson já vislumbrava este cenário, explicando porque o grátis seria o novo patamar de preços na internet.
Quando eu li este livro, eu já tinha aberto minha editora (Farol do Forte), com uma ideia inusitada na época. O livro seria disponibilizado totalmente gratuito em formato PDF, e vendido diretamente ao consumidor na versão física. O que me diziam, à época, é que não ganharia dinheiro, pois só teria custos em manter o site no ar com minhas publicações gratuitas. O tempo logo revelou que a internet tem uma lógica diferente e este livro deixou-me confiante e feliz em seguir este caminho.
Chris Anderson já era autor bestseller com o livro “A Cauda Longa” (resenha virá em breve!) e editor da Revista Wired (EUA) que aborda principalmente tecnologia, ciência, entretenimento, design e negócios. Referência no mercado – tanto Chris quanto a revista.
Anderson já observava que serviços muito utilizados na internet eram gratuitos – serviços de busca, email, transmissão de arquivos, hospedagem de páginas só para citar alguns. A ideia foi esmiuçar o que está por trás destas estratégias do gratuito.
Ele começa falando da “diferença entre átomos e bits”, ou seja, uma referência ao mundo físico e o virtual, onde o preço do segundo tende a ser ZERO ao longo do tempo. Conforme a tecnologia avança, a utilização de aplicativos, software, serviços on-line vão ficando tão baratos que seu preço pode ser arredondado para baixo, até que fique zerado.
Mesmo no mundo físico, alguns materiais – como componentes eletrônicos, por exemplo – vão ficando tão baratos ao longo do tempo que o preço acaba se aproximando de zero.
“Por um lado, a informação quer ser cara, por ser tão valiosa. A informação certa no lugar certo muda sua vida. Por outro lado, a informação quer ser grátis, porque o custo de acessá-la está sempre caindo. Então você tem essas duas forças lutando uma contra a outra”.
O autor apresenta algumas estratégias em que o grátis tem sido utilizado dentro do objetivo de negócios. Este é um mundo novo e interessante em que a economia está sendo criado em torno do grátis.
Mas, o autor alerta. “Não existe almoço grátis” – trata-se de uma frase comum na cultura norte-americana. Vamos entender quatro modelos apresentados pelo autor:
Subsídios Cruzados Indiretos
Este é um modelo de falso grátis. Em geral, trata-se de um benefício em relação a aquisição de um produto ou serviço. Por exemplo, quando o frete é gratuito acima de um determinado valor, há um subsídio da parte logística em função do maior volume de compras.
O mundo físico está cheio de exemplos como este, nas promoções de “pague 2 e leve 3”, brindes, quando se oferece um software gratuito em um computador ou smartphone ou mesmo quando o estacionamento é grátis para clientes.
Chris Anderson mostra o modelo de King Gillette (1855-1932), inventor que distribuía aparelhos de barbear a preços muito baixos e faturava com a venda de lâminas. Este é o modelo que alguns fabricantes de impressoras adotam há anos – as impressoras tem se tornado incrivelmente baratas, mas o custo do cartucho de tinta tem sido vantajoso para a indústria.
Mercado de três participantes
Este, assim como o Subsídio Cruzado Indireto, são práticas do século XX, mas até hoje estão presentes em nossa vida. Neste modelo, do Mercado de três participantes, é muito utilizado, por exemplo, no ramo da comunicação. Rádios e TVs abertas não cobram pela programação mas ganham na venda de espaço publicitário. A mídia é, portanto, a forma de fazer a mensagem publicitária chegar ao consumidor final. O que elas vendem, de fato, é a atenção do público e seus clientes, os anunciantes.
O sistema PDF (Portable Document Format, formato portável de documentos), foi disseminado por um programa de leitura gratuito – o Adobe Acrobat Reader. Os benefícios eram excelentes e a Adobe lucrava com a venda do Acrobat Distiller (programa que gera os PDF a partir de outros documentos) e licenciamento da tecnologia para outras empresas que quisessem oferecer a funcionalidade.
Neste modelo, o vendedor entrega o bem ou serviço que é gratuito ao consumidor, mas a transação é paga por uma terceira parte.
Outro exemplo, para esclarecer melhor, é quando um museu, por exemplo, não cobra entrada de crianças, mas sim do adulto que o acompanha.
Freemium
Anderson começa a desvendar o modelo Grátis do século XXI (ele escreve com “G” maiúsculo, para indicar o novo, em contraposição com o modelo grátis dos séculos anteriores). Começa descrevendo o freemium, em que o produto é lançado em duas versões: uma gratuita e outra paga, por conter diferenciações.
No começo desta resenha, fiz o depoimento sobre minha editora. Os meus livros são disponibilizados totalmente gratuitos no formato PDF. No entanto, muitos preferem folhear e ter a experiência de manusear livros físicos, porque são práticos, não requerem energia elétrica, são portáteis e a leitura é bastante agradável. Trata-se de um produto em duas versões, e, quando eu tive a ideia eu nem tinha ideia de que o livro Free estava sendo lançado.
Outros exemplos são aplicativos com versão gratuita e recursos limitados e versão paga com recursos adicionais e melhor desempenho, ou quando uma empresa concede espaço gratuito para armazenamento de dados em nuvem, mas cobra por um pacote adicional (iCloud, OneDrive, Google Drive, entre outros).
O Youtube, e outros serviços como o Spotfy, também oferecem acesso gratuito amplo e irrestrito baseado no modelo de exibição de propaganda. No entanto, se o usuário desejar, faz a assinatura de uma versão paga e livra-se de mensagens publicitárias.
Nem tudo são flores
Anderson também lembra que nem sempre o grátis é vantajoso, principalmente quando antes era vendido. Isto porque, para o ser humano, algo de graça pode significar algo sem valor ou de valor menor que o mesmo produto em versão paga:
Grátis é a melhor forma de maximizar o alcance de algum produto ou serviço, mas, se não for isso o que você está tentando fazer, pode ter efeitos contraproducentes. Como qualquer outra ferramenta poderosa, o Grátis deve ser utilizado com cautela, pois pode provocar mais danos do que benefícios.
Mas o autor alerta que é possível que milionários se formem, se compreenderem bem e dosarem corretamente esta cultura do grátis no desenvolvimento de negócios.
O próprio Youtube, citado aqui, era um produto que não gerava receita até ser adquirido pelo Google. Com o tempo, passou-se a remunerar por bons produtores de conteúdo, a partir da maior quantidade de visualizações. Atualmente, duas estratégias podem ser observadas neste serviço: 1) Freemium: acesso totalmente gratuito, com exibição de propaganda ou premium, versão paga em anúncios publicitários e outros recursos como salvamento e download de vídeos. 2) Mercado de Três Participantes: produtores de conteúdos são pagos por anunciantes, pois estes precisam da atenção do público para exibir suas mensagens publicitárias.
Nesta resenha, falei sobre o FREE, que, há mais de dez anos atrás, poderia ser considerado o futuro dos preços. Bem, nem tudo, atualmente é gratuito, mas já vemos a realidade transformada pelos acontecimentos que Chris Anderson antecipou em seu livro. Também percebemos que vivíamos na cultura do grátis bem antes do que imaginávamos e, atualmente, a política de cashback está se revelando um novo modelo de cupons e gratuidade.
Eu mesmo me beneficiei desta ideia, ao utilizar o grátis para divulgar meus livros e o conhecimento contido nele. Além da venda de livros físicos (impressos em bom e velho papel), também vendi cursos e palestras presenciais, além de melhorar meu currículo para me tornar gestor educacional e mudar de instituição como professor universitário.
Mesmo atualmente, a leitura deste livro é importante para compreender os aditivos que podem fazer o motor da economia rodar ainda mais veloz.
#leiturarecomendada