Livro: Psicodinâmica das Cores em Comunicação
As cores fazem parte da nossa vida. No entanto, nem sempre nos atentamos ao uso correto na comunicação. Isto pode estar relacionado a criação de peças publicitárias, posts de redes sociais, identidade visual e logotipia e até mesmo na escolha de cores de nossas roupas ou das paredes de casa.
Fato é que as cores influenciam o ser humano, tanto nas questões psicológicas quanto fisiológicas, como defende Modesto Farina em seu livro. As cores podem criar sentimentos de alegria ou tristeza, exaltação ou depressão, atividade ou passividade e tantos outros sentidos. Pode produzir sentimentos, sensações e reflexos sensoriais, mesmo que de forma subconsciente.
O livro é dividido em seis partes, algumas muito técnicas baseados em princípios da física e da anatomia da visão. Nesta resenha, vamos seguir uma ordem por assuntos, bem diferente de como se apresenta no livro, para melhor compreensão.
Cor e expressão
A cor é mais do que um elemento decorativo ou estético. Trata-se de um fundamento da expressão de valores sensoriais e espirituais. Assim, nas artes, a partir do século XIX, começa a ser aplicada para suscitar a sensibilidade do espectador, em especial quando o artista representa objetos ou fenômenos da natureza em sua obra.
No século XIX, marcado pela sucessão dos movimentos Neoclássico e Realismo, com a representação fiel das imagens da natureza e personagens retratados na pintura, as cores ajudam a reproduzir com exatidão a realidade. Na segunda metade do século, surge o movimento impressionista, a partir de pintores frases como Monet, Renoir, Cézane, Degas e Manet, principalmente retratando a natureza e explorando os efeitos da luz natural em suas obras.
A cor e a medicina
Como já dito, a cor pode ser usada além da estética. O autor também aborda a pesquisa científica e uso na medicina, em especial na técnica de cromoterapia, onde relaciona-se as cores às doenças físicas ou à cura, pela associação com as cores.
Pesquisas científicas relacionaram cores às doenças, sendo que podem influenciar também na cura. Por exemplo, o azul ajudaria nas doenças de olhos, ouvidos, nariz e pulmões; o vermelho para estômago, o fígado e baço; o verde para o sistema nervoso e aparelho digestivo entre outras.
Segundo o autor, as cores podem melhorar ou piorar nosso bem-estar, influenciando inclusive plantas e insetos e podendo causar doenças e até morte. Farina explica que “as larvas das moscas e dos besouros morrem sob influência da luz verde; a luz vermelha estimula as funções orgânicas do homem e favorece a marcha da catapora, sarampo e escarlatina; a luz anilada tem poder analgésico; a luz azulada faz parecer as plantas, enquanto que a vermelha as torna mais vigorosas.”
De acordo com o cromoterapeuta Reginald Roberts, o excesso da cor amarelo pode produzir indigestões, gastrites e úlceras gástricas; certas variações do verde, doenças mentais e nervosas; variações do vermelho, doenças do coração e reflexos na pressão arterial; o excesso de azul, a pneumonia, tuberculose pulmonar e pleurisia. Baseado nestas informações, os laboratórios farmacêuticos utilizam até as cores de comprimidos e cápsulas para se tornarem apropriadas às doenças mencionadas.
A cor e o ambiente
Como criador de sensações, a cor também pode ser utilizada na criação de espaço. As sensações de volume e distância podem variar conforme o emprego de cores. Também sensações climáticas como calor e frio estão ligadas ao uso de cores escuras ou claras, quentes ou frias.
Por exemplo, se pintarmos as paredes de uma sala de cor clara, a sala parecerá mais ampla, pois a sensação é de distanciamento das paredes. Por outro lado, se pintarmos as paredes de preto, a mesma sala parecerá menor, pois haverá sensação de aproximação das paredes.
A cor e nossa mente
Segundo Farina, nossa mente é a responsável pela interpretação das cores. Os olhos captam os sinais de luz e os envia para o cérebro onde a cor que estamos enxergando de fato é interpretada. “É como se os olhos fossem nossa máquina fotográfica, com a objetiva sempre pronta a impressionar um filme invisível em nosso cérebro”.
As cores na Psicologia
O livro nos ensina que o significado da cor pode variar em cada lugar ou mesmo objeto em que é empregado, ou seja, o significado depende do contexto.
O branco, por exemplo, no ocidente é muito relacionado à pureza. Em vários países do oriente, é associado ao luto. Já a cor vermelha, muito chamativa aqui no ocidente, é menos impactante no oriente, onde a cor já era utilizada há muito mais tempo.
Nas civilizações antigas como China, Índia e Egito, cada cor significava um símbolo. As cores do arco-iris, por exemplo, era comumente associado a emanação divina em um céu turbulento. “As cores faziam parte, assim, mais das necessidades psicológicas do que das estéticas, e as que mais surpreendiam aos olhos humanos seriam para enriquecer a presença de príncipes e reis, sacerdotes e imperadores, através dos deslumbrantes vestuários e ornamentos que lhes eram atribuídos”.
A cor e a ciência
A partir de estudos científicos, desvendou-se que o problema estético das cores está associado a três pontos de vista:
- Optico-sensível: quando a retina é sensibilizada, “vendo” uma cor;
- Psíquico: é a reação da mente à luz que recebeu;
- Intelectual-simbólico; quando o indivíduo pensa sobre o que viu.
Essa tríade pode ser comparada com o conceito de Walter Benjamin sobre Primeiridade, Secundidade e Terceiridade, onde a Primeiridade consiste na incapacidade de poder situar-se, como primeiríssimo contato com o objeto ou cor, aquele no qual ao pensar sobre ele, ele já se foi. Na Secundidade ocorre nba percepção do outro e, ao identificar o outro o indivíduo tem consciência de si. Na Terceiridade identifica-se o que já é conhecido, e então se pensa sobre o que já se viu e teve consciência. É quando um signo é transformado para ser interpretado conforme a abrangência cultural, tudo o que foi visto pela retina.
A cor e a comunicação
A utilização das cores oferece amplas possibilidades e pode liberar reservas de criatividade do homem, agindo não só em quem recebe a mensagem, mas também em quem a constrói.
A cor expressa e constrói a mensagem. Farina explica três etapas que a cor percorre:
- A cor é vista: impressão na retina;
- A cor é sentida: provoca uma emoção no indivíduo que a vê;
- A cor é construtiva: tendo significado próprio, tem valor simbólico e, portanto, pode construir uma linguagem que comunique uma ideia.
A cor possui como valor de expressividade fatores como movimento, peso, equilíbrio, o espaço e as leis que definem sua utilização. Por exemplo, se os que manejam uma cor sambem adequá-la ao fim proposto, a mensagem poderá ser compreendida até por analfabetos, sem sofrer as barreiras impostas pela língua.
Farina explica que “A força da cor é de uma sugestionabilidade incomparável e, portanto, um recurso de alto valor na Publicidade.”
A ciência da cor
Farina explica as cores como um espectro eletromagnético com campo de onda muito ampla, mas que somente uma parte é percebida pelo olho humano. Essas ondas, ao estimular a retina gera a sensação luminosa que chamamos luz.
A cor branca é formada pela junção de todas as cores existentes. Quando percebemos um objeto como sendo branco, é porque ele pouco absorveu da energia luminosa e refletiu a maior parte da luz. Já quando o objeto absorve a maior parte ou toda energia luminosa, não refletindo nenhuma das cores, temos a sensação do preto.
“O termo cor é sempre equivalente à expressão cor-luz. Podemos dizer que a cor constitui um evento psicológico. A Física nos explica que a luz é incolor. Somente adquire cor quando passa através da estrutura do espectro visual. Concluímos, pois, que a cor não é uma matéria, nem uma luz, mas uma sensação.”
Aspectos técnicos da cor
Esta obra técnica passa também pela explicação de conceitos relacionados à cor, como as escalas, tonalidade, saturação e luminosidade. O conhecimento destes conceitos podem, por exemplo, facilitar a compreensão e utilização de recursos de programas de computação gráfica, como o Adobe Photoshop, no tratamento de imagens. O artista plástico utiliza estes conceitos diretamente na criação de suas obras.
Tom
A tonalidade é a variação qualitativa da cor diretamente relacionada ao comprimento de onda eletromagnética. Quando fazemos uma escala monocromática de branco ao preto, ou seja, os tons de cinza e o acrescentamos a uma cor, teremos dois outros componentes da cor. Quanto mais próximo à luz, temos o matiz, quanto mais escuro, próximo a falta de luz, temos o sombreado.
Saturação
A definição de cor saturada é aquela em que não entram na composição nem o branco, nem o preto (e, por consequência, nem os tons de cinza). Quando a cor mostra-se no exato comprimento de onda que lhe corresponde no espectro solar.
Em geral, as cores saturadas são bem vivas e definidas, por esta pureza, não sendo misturado à luz, que o deixaria mais claro até os chamados tons pastéis, nem às sombras até os chamados tons insaturados.
Luminosidade
Luminosidade é a capacidade de uma cor em refletir a luz branca que há nela. Por esse motivo é que o céu é menos azul à noite, do que ao meio dia. Quando acrescentamos a cor preta a uma cor, reduzimos sua luminosidade. O contrário ocorre quando acrescentamos a luz branca.
Escalas Cromáticas
As escalas podem ser Monocromáticas, quando se utiliza apenas os tons de luminosidade de uma cor. Partindo-se do branco, vai-se acrescentando uma outra cor até chegar-se à saturação (escala de saturação). Partindo-se do preto e chegando-se a uma cor saturada, temos a escala de luminosidade.
Também podem ser Policromáticas, que, ao invés de branco (luz) e sombra (preto), realiza-se a modulação a partir de duas ou mais cores – por isso, chamado de poli (muitas) cromático (cores).
Contraste
Quando a combinação é composta de cores totalmente diferentes entre si, como azul e amarelo, rosa e verde, temos uma combinação contrastante. Ao contrário de quando utilizamos cores que têm uma parte básica comum, quando obtemos uma combinação harmônica.
O maior contraste existente está na luz e ausência de luz. Ou seja, branco e preto. Mas, observando as cores a partir da combinação das chamadas cores primárias, é possível obter contraste de cores.
Na chamada cor luz, são três as cores primárias: azul, verde e vermelho. A composição da cor amarela há presença de luz verde e vermelha. Por isso, existe o contraste com a cor azul, formada apenas pela luz primária azul.
O mesmo ocorre na luz rosa (formada pela soma das regiões de luzes/cores primárias vermelho e azul) em contraste com o verde (formada pela região de luz/cor verde).
Obra técnica com aplicação prática
O livro é um verdadeiro tratado sobre cores e a maioria das pessoas, buscando aplicação prática imediata, vai direto para o capítulo da psicologia das cores, onde há uma descrição das cores de acordo com as sensações cromáticas e acromáticas. Neste resumo, vou demonstrar reproduzindo o que autor diz sobre o branco. No livro, é possível encontrar a descrição de PRETO, CINZA, VERMELHO, LARANJA, AMARELO, VERDE, VERDE-AZULADO, AZUL, ROXO, MARROM, PÚRPURA, VIOLETA e VERMELHO-ALARANJADO, além do BRANCO, é claro.
BRANCO
- Associação material: batismo, casamento, cisne, lírio, primeira comunhão, neve, nuvens em tempo claro, areia clara.
- Associação afetiva; ordem, simplicidade, limpeza, bem, pensamento, juventude, otimismo, piedade, paz, pureza, inocência, dignidade, afirmação, modéstia, deleite, despertar, infância, alma, harmonia, estabilidade, divindade.
- A palavra branco nos vem do germânico blank (brilhante). Simboliza a luz, e nunca é considerado cor, pois de fato não é. Se para os ocidentais simboliza a vida e o bem, para os orientais é a morte, o fim, o nada. Representa também, para nós, ocidentais, o vestíbulo do fim, isto é, o medo ou representa um espaço (entrelinhas)
O meu livro é bem velhinho. Trata-se da edição de 1986, que ganhei de um colega de curso de Produção Gráfica. Atualmente, o livro encontra-se em nova edição, com mais dois co-autores, além de Modesto Farina, Clotilde Perez (da qual já tive o privilégio de ter sido aluno) e Dorinho Bastos.
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